terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Urucum Na Cara e a Barca do Acaso no Mar das Linguagens

O grupo Urucum Na Cara, para mim, sempre foi uma coisa de muitos significados.
Me lembro, há 9 anos quando esse nome surgiu.
Estávamos todos na casa do Bruno Sagui e do Flaviano Duarte (foto), no bairro Santa Tereza, desde sempre improvisamos estúdios não só nas garagens como também nas salas e cozinhas dos integrantes do grupo, agora estamos chiques... Temos um estúdio enorme instalado na casa do Leandro César e do Gustavo Amaral... Até pagamos parte do aluguel! Enfim, como eu dizia, estávamos na casa do Sagui e do Duarte quando o Bruno veio com o nome: "Urucum na Cara! Urucum na Cara! Urucum na Cara!" gritava ele e depois todos nós, eufóricos, gritávamos e pulávamos abraçando-nos com a descoberta do nome do grupo.
Desde então muita coisa tem acontecido na história desse grupo. Momentos preciosos... Essa casa a que me referia - do Sagui e do Duarte, assistiu-nos nossa consolidação enquanto projeto estético e enquanto grupo, assistiu a entrada de Laura Gomes e Luna Matos, duas rainhas que reinaram nesse grupo durante anos. O desejo de encontrar um groove afro-mineiro nos aproximou do congado e dos festejos do Beco D'Ajuda no Horto.
Depois nos mudamos para a minha casa no bairro Santa Inês, o meu quarto se transformava no nosso estúdio nos dias de ensaio. Ali outras mudanças aconteceram como a entrada do Vitor Aquino, que foi um momento decisivo para a construção de uma nova proposta estética... O swing dos tambores das guardas de congo e Moçambique, o surdo do samba, os atabaques da macumba e a batida black da Luna davam agora lugar para acordes complexos dedilhados e cadências harmônicas muito elaboradas de fazer chorar. Fomos ensaiar no centro de educação ambiental da Pampulha, para quem não conhece é aquela construção redonda que fica na praça da igreja São Francisco, em frente à Lagoa da Pampulha, a Luna tinha um contato lá. Neste lugar entra Rômulo e sai Alexandre Diniz, o que nos faz perder aquele clima de barroco mineiro... Mas ganhamos o clima rock'n roll que faltava! Depois fomos para a garagem do Rômulo, o novo baixista que entra para substituir Alexandre, e nesse lugar sai Luna, Flaviano e Bruno e entra Irene Bertachini e Mário Lúcio. Ai... O texto ta ficando grande de mais! Também, é tanta história neh... E olha que eu to sendo seco e reducionista hein...
Então vem a grande crise do grupo... Por um equívoco o grupo decidiu se trancar num estúdio para buscar a excelência - erro básico dos virtuoses em música... Idéia furada total... - e isso gerou uma grande crise... Foi um ano inteiro sem fazer show trancado num estúdio perto da casa do Mário Lúcio. O grupo acabou se esfacelando sobrando apenas Rubens Aredes, Irene Bertachini e Laura Gomes.
Mas desses três se tem a retomada dos trabalhos e logo se somaram os novos integrantes que estão na parada até hoje, com uma rápida passada do "B" e a triste saída da Laurinha. Desse estúdio fomos para a casa da Irene onde bombamos o repertório de Milton Nascimentos, da Casa da família Bertachini fomos para o Espaço Percussão no Padre Eustáquio onde reencontramos Luna Matos e tivemos a benção dessa mulher, quase deusa, para continuarmos a caminhada sem ela, porém com a benção dela. De lá fomos para a casa do Chapão e acabamos na sala do Leandro.
E na sala do Leandro é que assisti as maiores das transformações estéticas que esse grupo já viveu, tenho que esclarecer que temo essas transformações, na medida em que não as compreendo direito e que também estão me levando para mares que não desejei navegar. Estamos hoje dentro de uma barca navegando num grande mar de linguagens musicais e artísticas... Ainda mais com o desenvolvimento do projeto de pesquisa onde cada um pode trazer o que há de projeto estético em si.
Acabamos de mudar para uma mega sala, onde junto com a banda Diapasão, temos montamos um estúdio para ensaiar. Essa sala será testemunha das definições estéticas que estão para acontecer nos próximos meses... Quem estará lá para ver?
Eu não perco essa por nada!