Rubens Aredes

domingo, 2 de março de 2014

Vídeos do Espetáculo Nave Fluorescente


Coloco aqui, para os leitores, alguns vídeos do espetáculo Nave Fluorescente.

Agradecimentos aos rapazes do Laboratório Filmes, Davi Fuzari e Marco Antônio que realizaram as filmagens que geraram esses vídeos, eternizando, assim, esse momento.


Abrindo o espetáculo, Planeta Coração de Luna Matos.


A segunda música do espetáculo, onde a maior parte da banda que me acompanha é apresentada, Eu no Futuro de Lula Queiroga.


Depois, ainda de Lula Queiroga, Roupas no Varal.


Momento contemplação promovido pela combinação da música Óia a mata, de Gustavo Amaral, com a Projeção do Vídeo feito por Cristianne Ventura especialmente para esse show.


terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

NAVE FLUORESCENTE - rubens aredes




http://navefluorescente.tumblr.com/

O Espetáculo ‘Nave Fluorescente’ nasce da busca por um formato de trabalho por fora dos palcos e das gravações de discos, explorando possibilidades que a tecnologia de som, vídeo e internet pode proporcionar. Nasce também da vontade de dialogar com as possibilidades da música eletroacústica, algo inédito para mim, que pudesse inaugurar uma nova fase na minha carreira de cantor. Acabo por fazer um espetáculo que mescla elementos de performance, instalação e show de música.
A principal fonte de inspiração foram as leituras sobre a ‘Casa da Tia Ciata’, no Rio de Janeiro, início do século passado. Considerada por muitos musicólogos e historiadores da MPB como o berço da música popular brasileira, a Casa da Tia Ciata ficou conhecida por reunir todas as raças e classes sociais em festas musicais. Havia, a partir da arquitetura da casa, uma divisão sócio musical: Na sala de estar aconteciam as valsas, polcas e modas, numa formação instrumental que depois deu origem ao chorinho; na sala de jantar acontecia o samba antigo enquanto no terreiro dos fundos uma batucada. Tudo ao mesmo tempo.
Daí surge a ideia: realizar um espetáculo musical em uma casa, em que cada músico está em um cômodo diferente enquanto eu posso circular pela casa conduzindo o público. Todos (nós, músicos) estamos ligados por um sistema de retorno de som auricular, por um sistema de vídeo com a captura individual da imagem de cada um e transmissão ao vivo para televisores instalados na sala de estar. O resultado da mixagem do som ao vivo também é lançado na sala de estar em PAs junto aos televisores. Nos demais ambientes da casa, o público pode experimentar a mixagem promovida pela arquitetura da própria casa a partir dos vazamentos sonoros da sala de estar e dos cômodos com seus músicos.
Havia um tempo em que eu queria abordar assuntos do cotidiano das pessoas e das relações humanas. Acabo por refletir os espaços domésticos. O que significa o quarto? O local da intimidade, do amor, da solidão, onde estamos a sós e de frente para quem realmente somos. A sala de visitas? Poderia ser o local das máscaras sociais que usamos todos os dias?
Deste ponto de partida, selecionei o repertório, procurando cada um dos compositores. Todos de Belo Horizonte, entendendo que BH é a minha casa. São Gustavo Amaral, Kristoff Silva, Luiz Gabriel e Luna Mattos. Selecionei canções que cumprissem o papel da reflexão sobre o espaço de moradia. Quando Titane chegou, a diretora geral do espetáculo, outros elementos foram aparecendo e resolvemos investir e ampliar o tema, rumo a uma dramaturgia mais definida. Apoiados no repertório escolhido, acabamos por refletir sobre a relação do tempo na vida humana. O passado, o presente e o futuro na construção do íntimo de cada um de nós e das nossas relações. Isso transformou a casa, que é a nave fluorescente, na casa de todo mundo, uma casa de família tradicional e ao mesmo tempo uma casa de baile de bordel. Uma casa que é a cidade, que é o mundo, o universo.
O nome ‘Nave Fluorescente’ surgiu da música ‘Planeta Coração’, de Luna Mattos, que abre o espetáculo. Nesta música, todo lugar do universo, onde for possível amar, é a nossa casa.
O Espetáculo, produzido com os recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte - Fundo de Projetos Culturais, estreia dia 16 de março e fica em cartaz nos dias 17, 18, 24, 25 e 26 (sex, sab., dom.) no Espaço Fluxo, no bairro Santa Tereza, todos os dias as 19 e 30 horas.
A concepção é minha. A direção geral é de Titane. A direção musical de Leandro César. Os músicos que me acompanham são Leandro César (violão), Gustavo Amaral (baixo acústico), Adriano Goyatá (bateria) e Pedro Durães (programação eletroacústica).
Canto músicas de Gustavo Amaral, Kristoff Silva, Luna Mattos e Luis Gabriel. Produção Rodrigo Jerônimo e Rubens Aredes. Projeto de som de André Cabelo. Projeto de Vídeo Cris Ventura e Davi Fuzzari. No espetáculo ainda recebemos a ilustre visita de Luiz Gabriel com quem tenho o prazer de cantar uma canção.
Espero todos lá em casa, na Nave Fluorescente.
Um grande abraço.
Rubens Aredes

segunda-feira, 21 de março de 2011

Significados e Identidade Negra na Música, Arte e Pedagogia do Grupo Arautos do Gueto em Belo Horizonte

Neste artigo, apresento algumas reflexões desenvolvidas durante pesquisa de iniciação
científica em etnomusicologia junto ao Grupo Arautos do Gueto em Belo Horizonte. A pesquisa objetiva compreender a criação e recriação de significados na performance musical,
em especial os de afirmação da identidade negra, para isso usou da etnografia participativa e análise comparativa. Na introdução apresento o conjunto de fatos observados
na realidade que levaram à elaboração do projeto de pesquisa. Depois apresento breve
descrição histórica, etnografia e análise etnopedagógica*, discutindo a importância de
seu método pedagógico na construção de significados. Apresento análise estrutural de
partitura de música que transcrevi a partir de gravação de vídeo em trabalho de campo.
Nesta, identifico, à luz da bibliografia, elementos capazes de gerar significado de identidade afro. Por fim concluo que no trabalho artístico-pedagógico do Grupo Arautos do Gueto,
elementos musicais e extra-sonoros são articulados de forma a gerar, nos atores sociais,
um sentido de identidade negra e de afirmação da mesma.

ver artigo completo:
http://www.ceart.udesc.br/dapesquisa/files/2010/MUSICA-04Rubens.pdf

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Urucum na Cara e a Barca do Acaso no Mar das Linguagens 2


São 2:57 da madruga. Insônia.

Nunca fui um cara de ter insônia, sempre dormi bem e tranquilo.

Resolvi escrever um pouco para ver se o sono vem.

Ha dez anos atrás nascia o grupo Urucum na Cara. Era um entusiasmo muito grande que só vendo. Queríamos abrir nossas vozes pela revolução e o retorno à África. Nos não só acreditávamos nisso como também era a onda do momento. Éramos todos filhos de operários ou camponeses e queríamos nos libertar. Estudar música era um sonho distante prum bando de jovens pobres que tinha como principal atividade do dia o trabalho nas fábricas ou comércio. Onde é que gente pobre pode estudar música no Brasil? Mesmo assim estávamos dispostos a enfrentar essa realidade para sermos músicos e através da música gritar! gritar! gritar!

Retorno à África? Sim. Naquela época a cidade estava cheia de músicos quase todos negros e pardos. Até os músicos brancos acabavam por se transformar em negros também. Nós, os "urucumnautas", estávamos titanizados pelos sons que vinham da periferia da cidade, tizumbiados pelos sons dos tambores, tambolelizados pelos sons do nordeste e do sertão mineiro. E em todo esse universo sonoro ouvíamos nas entrelinhas musicais a luta de classes gritando e a nossa ancestralidade cantava da pele de cores misturadas. Tava tudo lá: No entoar de vozes dos congadeiros morava a revolução. Na batida samba-rap do morro é que estavam as armas e nos tambores africanos a nossa esperança de um mundo melhor.

Porém nesta barca eu tenho tentado pescar mas o mar não está pra peixe. Não há mais músicos negros e pardos. O que houve com a negritude? Foi toda baleada ou trancada em presídios? África é um bom tema a ser abordado, mas hoje tem sido abordada de maneira romântica e com ar bucólico, pois eu-lírico já não é negro pobre. Vinícius se aclamou o "branco mais preto do Brasil", todos conhecem a canção em que Vinícius canta "Salve Xangô meu rei, senhor! Salve meu orixá! São SETE cores, sua cor, SETE dias para a gente amar". Coitado! Ah se ele soubesse que sete é o número de Ogum e que o mesmo não é muito simpático com Xangô; número sagrado de Xangô é doze e o sete é proibido nos seus ritos. Mas isso não é problema, se a classe média branca e os universitários gostam da música já basta para Xangô adotar o número sete como predileto e ter Ogum como seu melhor amigo!

A batida samba-funk é coisa do passado, foi-se a época em que a classe média branca se interessava pela cultura do morro e tizumbiava a fazer oficinas de tambor e colocar tererê nos cabelos. Essa coisa de tambor é muito "tilelê" pra atual juventude que frequenta a praça da liberdade e a zona sul da cidade. A atual geração é mais sincera com sua falta de identidade e resolveu assumi -la, não está muito interessada em preencher suas lacunas étnico-culturais com a cultura dos negros e do morro... Pra que se na internet e eu posso preencher com coisas que não passam pra fora da minha janela?

O maior problema que os músicos da canção popular enfrentam hoje é o de apresentar um bom poema sobre as flores, sobre o sol, sobre o mar. Agora a moda são acordes bem elaborados e é até pecado tocar o mesmo acorde na mesma música mais de uma vez. E isso não é questão de virtuosismo não, é uma mera exigêcia do mercado, ou uma simples questão ideológica pela qual até se fazem abaixo-assinados e manifestos contrastantes com um repertório onde nenhuma música se dá ao trabalho de incomodar, a não ser por algumas dissonâncias engenhosamente encaixadas. Mas só incomoda quem está incomodado e, aliás, com o que se icomodar? o Lula é presidente, estamos no auge da democracia e o Brasil é o país da Copa do Mundo e das Olimpíadas! Que otimismo! Que beleza!

Urucum Na Cara e a Barca do Acaso no Mar das Linguagens

O grupo Urucum Na Cara, para mim, sempre foi uma coisa de muitos significados.
Me lembro, há 9 anos quando esse nome surgiu.
Estávamos todos na casa do Bruno Sagui e do Flaviano Duarte (foto), no bairro Santa Tereza, desde sempre improvisamos estúdios não só nas garagens como também nas salas e cozinhas dos integrantes do grupo, agora estamos chiques... Temos um estúdio enorme instalado na casa do Leandro César e do Gustavo Amaral... Até pagamos parte do aluguel! Enfim, como eu dizia, estávamos na casa do Sagui e do Duarte quando o Bruno veio com o nome: "Urucum na Cara! Urucum na Cara! Urucum na Cara!" gritava ele e depois todos nós, eufóricos, gritávamos e pulávamos abraçando-nos com a descoberta do nome do grupo.
Desde então muita coisa tem acontecido na história desse grupo. Momentos preciosos... Essa casa a que me referia - do Sagui e do Duarte, assistiu-nos nossa consolidação enquanto projeto estético e enquanto grupo, assistiu a entrada de Laura Gomes e Luna Matos, duas rainhas que reinaram nesse grupo durante anos. O desejo de encontrar um groove afro-mineiro nos aproximou do congado e dos festejos do Beco D'Ajuda no Horto.
Depois nos mudamos para a minha casa no bairro Santa Inês, o meu quarto se transformava no nosso estúdio nos dias de ensaio. Ali outras mudanças aconteceram como a entrada do Vitor Aquino, que foi um momento decisivo para a construção de uma nova proposta estética... O swing dos tambores das guardas de congo e Moçambique, o surdo do samba, os atabaques da macumba e a batida black da Luna davam agora lugar para acordes complexos dedilhados e cadências harmônicas muito elaboradas de fazer chorar. Fomos ensaiar no centro de educação ambiental da Pampulha, para quem não conhece é aquela construção redonda que fica na praça da igreja São Francisco, em frente à Lagoa da Pampulha, a Luna tinha um contato lá. Neste lugar entra Rômulo e sai Alexandre Diniz, o que nos faz perder aquele clima de barroco mineiro... Mas ganhamos o clima rock'n roll que faltava! Depois fomos para a garagem do Rômulo, o novo baixista que entra para substituir Alexandre, e nesse lugar sai Luna, Flaviano e Bruno e entra Irene Bertachini e Mário Lúcio. Ai... O texto ta ficando grande de mais! Também, é tanta história neh... E olha que eu to sendo seco e reducionista hein...
Então vem a grande crise do grupo... Por um equívoco o grupo decidiu se trancar num estúdio para buscar a excelência - erro básico dos virtuoses em música... Idéia furada total... - e isso gerou uma grande crise... Foi um ano inteiro sem fazer show trancado num estúdio perto da casa do Mário Lúcio. O grupo acabou se esfacelando sobrando apenas Rubens Aredes, Irene Bertachini e Laura Gomes.
Mas desses três se tem a retomada dos trabalhos e logo se somaram os novos integrantes que estão na parada até hoje, com uma rápida passada do "B" e a triste saída da Laurinha. Desse estúdio fomos para a casa da Irene onde bombamos o repertório de Milton Nascimentos, da Casa da família Bertachini fomos para o Espaço Percussão no Padre Eustáquio onde reencontramos Luna Matos e tivemos a benção dessa mulher, quase deusa, para continuarmos a caminhada sem ela, porém com a benção dela. De lá fomos para a casa do Chapão e acabamos na sala do Leandro.
E na sala do Leandro é que assisti as maiores das transformações estéticas que esse grupo já viveu, tenho que esclarecer que temo essas transformações, na medida em que não as compreendo direito e que também estão me levando para mares que não desejei navegar. Estamos hoje dentro de uma barca navegando num grande mar de linguagens musicais e artísticas... Ainda mais com o desenvolvimento do projeto de pesquisa onde cada um pode trazer o que há de projeto estético em si.
Acabamos de mudar para uma mega sala, onde junto com a banda Diapasão, temos montamos um estúdio para ensaiar. Essa sala será testemunha das definições estéticas que estão para acontecer nos próximos meses... Quem estará lá para ver?
Eu não perco essa por nada!